Debate sobre a juventude

Os próximos debates promovidos pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias,em parceria c/a CUFA, acontecerão no CE, DF, RJ e MA


Mesa de Abertura

Para a deputada federal Manuela d’Ávila (PCdoB/RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Inclusão da Câmara Federal, chegou a hora de mudar o enfoque das discussões que envolvem a juventude, reconhecendo, com políticas públicas intersetoriais a importância deste segmento no desenvolvimento e no futuro de Brasil. A parlamentar foi mediadora do seminário Juventude e Desenvolvimento Rural, realizado nesta segunda-feira (26) na Assembleia Legislativa, dentro do programa Destinos e Ações para o Rio Grande. Conforme ela, o debate será estendido para as outras regiões do país. “Estamos abrindo este ciclo em Porto Alegre e vamos levar esta pauta para outras cidades-polo, pois entendemos que a juventude não pode estar excluída deste novo Brasil que estamos construindo”, argumentou a deputada.

Entre as maiores preocupações dos participantes, está a questão da educação. Segundo dados oficiais, 47% dos jovens brasileiros não chegam ao ensino médio. “Esta é uma prioridade absoluta, é a base para pensarmos outros avanços e conquistas”, defendeu Manuela, que ainda falou sobre a complexidade do tema. “A juventude compreende várias etapas da nossa existência, portanto precisamos ações direcionadas tanto para adolescentes de 14 anos como para adultos de 30, muitos já com famílias constituídas e com uma realidade diferenciada. Se para o primeiro, o Estado tem que garantir acesso à escola, o segundo quer estar incorporado a programas de moradia e geração de renda, por exemplo. Se o jovem mora na periferia, os desafios são ainda maiores, pois se os órgãos públicos não garantem direitos e oportunidades, a falta de perspetiva pode dar espaço à violência, às drogas e à criminalidade”, avaliou a deputada, que defendeu a ampliação dos espaços culturais para a juventude e invistimentos em infraestrutura para atender as demandas da juventude, como creches noturnas para que jovens mães possam frequentar escolas e universidades, exemplificou. "Este país ainda é um país jovem, mas daqui a trinta anos a pauta não será mais o jovem", referiu.


Na opinião do Manoel Soares, coordenador estadual da Central Única de Favelas (Cufa), os impactos na juventude do crescimento econômico registrado no Brasil e no Rio Grande do Sul no último período estão muito aquém do ideal, pois, principalmente na periferia, o número de jovens sem acesso à educação, à cultura, ao esporte, a saúde, à comunicação e ao emprego é ainda é muito grande. Para ele, além da obrigação do Estado em assegurar serviços básicos, o jovem deve buscar investir em si mesmo e romper preconceitos. “Os estudiosos costumam dizer que há gap (lacuna) entre os aspectos positivos do desenvolvimento e a juventude, como se os jovens habitassem um buraco social. Desde que comecei a atuar na Cufa, vi 36 jovens morrerem e se não sairmos deste buraco outros jovens continuarão sendo enterrados”, alertou Manoel.


Territórios vulneráveis

O coordenador do Protejo, programa vinculado ao Pronasci (Programa Nacional de Segurança e Cidadania) do Ministério da Justiça, dirigido a jovens moradores de comunidades vulneráveis à violência, Neri da Costa, ressaltou a obrigação do Estado de buscar novos caminhos para enfrentar a descoesão social que não alimentem o círculo vicioso da violência. “Os problemas constatados nestes territórios são apenas a multiplicação da realidade que encontramos em vários outros locais, ou seja, a estigmatização e a marginalização da juventude. O Estado brasileiro tem uma dívida histórica com este público. Jovens em conflito com a lei não são mero caso de polícia e se não conseguirmos mudar esta cultura não vamos conseguir barrar o círculo da violência, da drogadição, da criminalidade e da morte precoce destes cidadãos. Investir na juventude é investir no futuro do País, sustentou Costa. No Rio Grande do Sul, uma primeira experiência do Protejo está sendo desenvolvida em Novo Hamburgo, onde 300 jovens, entre 15 a 24 anos, foram selecionados para participarem de atividades de inclusão digital, oficinas de comunicação comunitária, cursos e outras atividades de capacitação e lazer.

Realidade específica

As questões específicas dos jovens do campo foram avaliadas por Ana Tereza Ferreira, da Coordenação de Desenvolvimento Humano do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Segundo ela, os problemas da juventude do campo passam não só pelo acesso à terra, à educação ou à inserção produtiva. “Este grupo é visto como uma categoria chave para a segurança alimentar e nutricional do país. Se os jovens continuarem a optar pelas cidades, quem vai alimentar o país nas próximas décadas?”, questionou a representante do MDA. Conforme ela, o jovem do campo enfrenta um desafio a mais no momento de afirmar sua autonomia. “Nestas estruturas, o jovem vive um dilema extra, pois geralmente o pai tem o comando e, mesmo trabalhando, o jovem mantém uma relação de dependência com a família, o que significa um motivo a mais para ele buscar sua independência nos grandes centros”, apontou, explicando que a situação das mulheres jovens é ainda mais delicada. “Nestes casos, o preconceito de gênero é um obstáculo a mais a ser superado”.

Participantes


Acima na foto, Eliane e Janaína da CUFA, Coordenadora da Canoas. Também estiveram presentes Tatiane Chaves, Coordenadora da CUFA Guaíba e Rogério Santos, Coordenador da CUFA Montenegro.

Também participaram do seminário Getúlio Vargas, diretor de juventude da Conam – Confederação Nacional das Associações de Moradores, o deputado federal Elvino Bohn Gass (PT/RS), o deputado estadual Jeferson Fernandes (PT) e Marden José de Andrade, coordenador de conflitos fundiários urbanos da Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades.

Os próximos debates promovidos pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, em parceria com a CUFA, acontecerão em Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro e Brasília.


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