Manoel participa de evento na ALRS

Familiares de usuários de drogas relatam o drama da dependência química.
Manoel Soares, comunicador e coordenador da CUFA RS.

Prossegue à tarde, nesta sexta-feira (12), o Seminário Estadual de Combate ao Crack e outras Drogas Ilícitas no Rio Grande do Sul, que integra o programa Destinos a Ações para o Rio Grande, promovido pela Assembleia Legislativa em parceria com a Câmara dos Deputados. Com a mediação da deputada Miriam Marroni (PT), o segundo painel do evento debateu as redes de tratamento voltadas aos dependentes. Em depoimentos emocionados, Manoel Soares, da Cufa, e Elaine Jung, do Grupo Mães Contra o Crack, relataram como é o drama de conviver com a dependência química na família. O irmão de Soares e o filho e a nora de Elaine são viciados em crack.

Miriam salientou que é uma conquista recente da sociedade considerar a drogadição como uma doença e um problema de saúde pública. Informou aos presentes que a Assembleia Legislativa, por meio da Subcomissão para tratar da Situação dos Dependentes de Crack, da qual ela é relatora, vem debatendo o assunto desde o início do ano. Afirmou ainda que estão sendo realizadas visitas nos municípios que são polos regionais da rede de tratamento voltada à dependência química. A parlamentar acrescentou que, com relação ao dependentes de crack, já se sabe que há a necessidade de adaptar a técnica terapêutica empregada no tratamento. De acordo com ela, há na UFRGS um centro específico para capacitar os agentes de saúde para o trabalho.

Depoimentos
Soares disse que soube da existência do crack em 1993, através de uma música dos Racionais MC. De lá para cá, segundo ele, nada foi feito e a situação só se agrava. Morador do Morro Santa Tereza, em Porto Alegre, ele relatou que, em diversas ocasiões, passou a noite, armado, em frente a casa da família, para evitar que o irmão e outros dependentes tentassem invadi-la em busca de bens para comprar a pedra. “A minha opinião não é a de quem lê livros a respeito”. Emocionado, contou que busca uma vaga para internar o irmão, que atualmente vive na rua em São Paulo. Ele defendeu também que, apesar da opinião contrária de alguns especialistas, a internação compulsória é necessária.

Soares explicou o motivo pelo qual não se vê muitos usuários de droga nas ruas da Capital. De acordo com ele, trata-se de um ciclo já conhecido na favela. O viciado, em busca da pedra, desrespeita a hierarquia do tráfico e não honra os pagamentos. Protegido pela figura da mãe, que goza de muita autoridade no local, não é morto, mas precisa deixar a comunidade. “O viciado vai para o centro da cidade, o que cria a cracolândia”. Na cidade, devido à repressão policial e à falta de recursos, ele se vê obrigado a retornar. “A mãe o recebe e ele continua. Ou a mãe sustenta o vício ou ela deixa ele morrer. Essa é a realidade”.

Em alguns casos, segundo Soares, o filho aluga a casa da mãe para a instalação dos chamados “bretes”, locais onde ocorre o consumo e venda da pedra. “Tem mãe pagando R$ 400,00 para matar o próprio filho, porque ela sabe que não tem saída”. Quanto ao trabalho dos traficantes, o representante da Cufa disse que muitos são pessoas sem recursos, que tiveram pais honestos e não querem continuar na miséria. Segundo ele, o traficante tem interesse no elevado potencial de lucro do crack, uma vez que um quilo da droga gera uma renda de R$ 20 mil.

Moradora de Pelotas, Elaine Jung relatou todas as dificuldades pelas quais passou para conseguir atendimento para o filho e para a nora na rede pública. Afirmou que, por diversas vezes, o pronto-socorro lhe negou assistência. “Eu cheguei a acorrentar o meu filho”. Hoje, o filho de Elaine está preso, mas a nora não utiliza drogas há um ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário